Grupo de estudo do livro "A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo"

04/09/2019

O porquê do estudo de "A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo" 

Opiniões e manifestações espirituais devem ser analisadas com base nos critérios da lógica, do bom senso e, inclusive, dados concretos disponíveis

Artigo: Antonio Cesar Perri de Carvalho | acperri@gmail.com

Fonte: Revista Internacional de Espiritismo, páginas 368-369 de agosto de 2018


Adulteração da Obra "A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo

Os 150 anos da publicação de A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo estão sendo assinalados por momentos de polêmica a respeito de suas edições francesas iniciais.

A Gênese foi lançada por Allan Kardec em janeiro de 1868, sendo por ele reeditada mais duas vezes no mesmo ano e tendo a 4ª edição lançada em fevereiro de 1869. Portanto, até a desencarnação do Codificador, foram lançadas quatro edições da citada obra. Atendendo às exigências do governo francês, ele submeteu a primeira edição ao Ministério do Interior, que após a liberação, foi depositada na Biblioteca atualmente conhecida como Biblioteca Nacional da França. Para as duas outras edições de 1868 e a edição de fevereiro de 1869, Allan Kardec apenas informou que teriam o mesmo conteúdo da edição original.

Em dezembro de 1872, a Sociedade Anônima para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec lançou a 5ª edição, que precisou passar pelos trâmites oficiais de registro, pois se tratava de uma "edição revisada, corrigida e aumentada".

Livros e revistas em francês das últimas décadas do século XIX já traziam matérias sobre as polêmicas e contradições relacionadas com a citada Sociedade Anônima, as deturpações ocorridas em A Gênese e a alteração da linha editorial nas edições da Revista Espírita após a desencarnação de Kardec.

A Sociedade Anônima

É sabido que essa Sociedade Anônima concedeu, ainda no século  XIX, a várias instituições - inclusive do Brasil - a autorização para a tradução da 5ª edição francesa.

Porém, estas concessões caducaram quando as obras de Allan Kardec caíram no domínio público. Pela legislação francesa da época, seriam 50 anos após a morte do autor.

Desde fatos ocorridos no 2º semestre de 2017, como o alerta e posição firme e clara da Confederação Espírita Argentina, a publicação da obra El legado de Allan Kardec e da nova tradução para o espanhol da 1ª edição francesa de A Gênese, ocorrem repercussões em nosso país.

A nosso ver, o sesquicentenário de A Gênese deve ser bem aproveitado pela comunidade espírita para realmente ler, estudar e refletir seu conteúdo.

No início de março de 2018, a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo realizou o seminário "A Gênese. O resgate histórico", com atuação de Simoni  Privato Goidanich, oportunidade em que lançou a tradução para o português de sua obra, com o título O legado de Allan Kardec[1].


Há quase dez anos já existia uma tradução para o português da 4ª edição francesa (de 1868) de A Gênese, editada pelo Centro Espírita Léon Denis (CELD), do Rio de Janeiro. Em maio de 2018, a Fundação Espírita André Luiz (FEAL), de São Paulo, lançou a tradução para o português da 1ª edição francesa de A Gênese. Alguns países já lançaram traduções de A Gênese com a mesma base.

Algumas pessoas e instituições prosseguem na defesa das traduções da 5ª edição francesa da citada obra e circulam textos variados.

Aliás, todas editoras do Brasil comercializam a citada versão; as únicas exceções são as editoras do CELD e da FEAL.

A União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo divulgou Manifesto de sua Diretoria Executiva, recomendando "a adoção da 4ª edição francesa (cujo conteúdo é idêntico às três edições anteriores) e suas respectivas traduções do livro A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo como a obra de referência doutrinária, cuja autoria pode ser atribuída, sem qualquer dúvida, a Allan Kardec"[2].

Todavia, permanecem dúvidas e questionamentos para muitas pessoas e instituições, apesar dos fatos e divulgação de documentos franceses pesquisados e reproduzidos por Simoni Privato Goidanich em seu livro O legado de Allan Kardec e apresentados em vários seminários.

Evidentemente que muitos não acessaram o livro citado e podem estar agindo motivados por muitas outras razões.

Alguns ficam na expectativa de manifestações dos Espíritos ou de posições dessa ou aquela instituição.

É natural que a dúvida ou a remoção da posição de conforto incomode, mas essa é a razão para nos debruçarmos no texto de A Gênese e analisarmos as posições e recomendações do sensato e racional Codificador.

A Doutrina Espírita recomenda que as opiniões e as manifestações espirituais devem ser analisadas com base nos critérios da lógica, do bom senso e, inclusive, dados concretos disponíveis, o que abrange documentos históricos e oficiais; e da concordância com o ensino dos Espíritos.

O Codificador destaca na Apresentação e no primeiro capítulo de A Gênese, intitulado "Fundamentos da Revelação Espírita": "(...) pedimos uma atenção rigorosa para esse ponto, porque é aí que se encontra, de algum modo, o nó da questão.

Não obstante a parte que toca à atividade humana na elaboração dessa Doutrina, a sua iniciativa pertence aos Espíritos, ela, porém, não é formada da opinião pessoal de cada um deles; ela não é, e nem pode ser, mais que o resultado do seu ensino coletivo e  concordante. Somente nessa condição, ela pode se dizer a Doutrina dos Espíritos, de outra forma seria apenas a doutrina de um Espírito, e só teria o valor de uma opinião pessoal."[3,4]

Ainda no capítulo inicial de A Gênese, o Codificador reitera: "O caráter essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, consequentemente, não existe revelação.

Toda revelação desmentida por fatos, não é revelação; se ela for atribuída a Deus, não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele, é preciso considerá-la como o resultado de uma concepção humana."[3,4]

E Allan Kardec reforça o papel do Espiritismo como "ciência de observação".

Pois bem, nesta condição os fatos e documentos não podem ser desprezados!

Em seu Manifesto, a USE-SP recomenda:

"Promover encontros, seminários e outros meios de interação com os dirigentes e colaboradores de instituições espíritas em geral objetivando o esclarecimento sobre os fatos históricos e documentos que justificam a adoção da 4ª edição francesa e suas respectivas traduções desta obra como referência."

A nosso ver, o sesquicentenário de A Gênese deve ser bem aproveitado pela comunidade espírita para realmente ler, estudar e refletir seu conteúdo. E para os grupos que puderem, compararem os textos da obra publicada por Allan Kardec, enquanto encarnado -da 1ª a 4ª edições -, com a 5ª edição de 1872.

Valorizemos as Obras Básicas de Allan Kardec, efetivamente estudando-as.


1. GOIDANICH, Simoni Privato. O legado de Allan Kardec. 1.ed. São Paulo: USE. 2018. 446p.

2. NOTA OFICIAL - Edições do livro A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. São Paulo, 14/06/2018; https://grupochicoxavier.com.br/use-recomenda-sobre-a-genese/

3. KARDEC, Allan. A Gênese. Trad. Albertina Escudeiro Sêco. 3.ed. Apresentação; Cap. 1. Rio de Janeiro: Ed. CELD, 2010.

4. KARDEC, Allan. A Gênese. Trad. Carlos de Brito Imbassahy. 1.ed. Apresentação; Cap. 1. São Paulo: FEAL, 2018.

O autor deste artigo foi presidente da FEB, da USE-SP e membro da Comissão Executiva do CEI.

© 2019 Associação Espírita Allan Kardec - Suzano/SP | Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora